No apagar das luzes de 2022, não é que nasce mais uma A Comunicação Nossa de Cada Dia? Quando decidi propor essa newsletter, ela veio com a promessa de não lotar vocês com mais do mesmo para manter a regularidade ou qualquer outra característica geradora de ansiedade e caixa de e-mails lotada. Ou seja: só sai quando existir algum assunto para o qual eu ache que possa contribuir para o debate.
Assim, cá estamos nós, eu daqui, você daí, me dando o presente da sua leitura, que estará recheada de hiperlinks para postagens feitas ao longo do ano, o que acaba funcionando, também, como uma retrospectiva do que aconteceu nesse meu perfil.
Assim, cá estamos nós, eu daqui, você daí, me dando o presente da sua leitura, que estará recheada de hiperlinks para postagens feitas ao longo do ano, o que acaba funcionando, também, como uma retrospectiva do que aconteceu nesse meu perfil.
Proponho um começo sincero e honesto: se a sua cabeça não está fervilhando de ideias e ao mesmo tempo incapaz de processá-las, me conta como chegou até aqui, porque debaixo dos caracóis dos meus cabelos é exatamente esse o estado.
Infodemia, exaustão, necessidade de parar um pouco… chamamos como quisermos e está tudo bem estarmos todos absolutamente esgotados porque o que temos é para isso sim.
E não está tudo bem.
Ou está, e bora desenvolver!
Não está tudo bem
Porque a gente está se matando de trabalhar para manter alguma dignidade. E ainda levantemos as mãos aos céus e àquelas entidades nas quais cremos por termos condições de fazer isso no país do desemprego e do trabalho informal disfarçado de empreendedorismo.
Estamos assoberbados de tarefas nas nossas selvas cotidianas e suas lutas que cada um de nós sabe bem onde apertam e, sim, para nós, são as maiores do mundo (o que não significa que não tenhamos que exercitar a capacidade de compreender que por mais que nós sintamos como maiores do mundo, elas, de fato, não são, então, é preciso empatia, respeito e parcimônia).
Nesse momento, é uma quantidade de coisas que passa por aqui para falar sobre por que não está tudo bem, que resolvi me agarrar a uma delas, que, ao fim, é a grande motivadora desse textão de 28 de dezembro, quando de verdade imaginei que já não fosse capaz de produzir mais nada datado em 2022.
Se quiserem seguir, vou adorar, porque vai começar a ficar mais animado…
Está tudo bem
Estou aqui escrevendo para você. Daí, você me lê. Coisa boa: somos vida!
E antes que você pense parei, Ceci pollyanizou e agora não quero mais saber dela, trata-se de compartilhar contigo um acordo que fiz comigo mesma neste ano.
Está tudo bem ter medo. Está tudo bem refugar de vez em quando. Está tudo bem não aprender tudo o que você precisaria saber para gerir suas coisas (é para isso que existem diversas profissões e especialidades e nem sempre dinheiro para contratá-las). Está tudo bem não ser Mulher Maravilha. Está tudo bem não ser princesa. Não ser plebeia. Não ter dado tudo certo. Não ter chegado a tempo. Não ter sido compreendida em tudo o que desejou…. (completem a lista com suas respectivas acolhidas).
E por que está tudo bem?
Porque — meu caso — preciso celebrar mais minha potência e capacidade absurda de realizar, agregar, motivar, inspirar, desenvolver, criar, viver.
Problemas mil com toda certeza!
Mas se com todos os está tudo bem de quatro parágrafos acima estamos aqui, eu e você, você e eu, juntinho, é porque teve:
- coragem para passar a segunda no medo;
- os refugos permitiram um distanciamento necessário para, quem sabe, tomar melhores decisões;
- não aprender tudo o que seria necessário para fazer tudo o que você precisa que seja minimamente feito deixou um espacinho para potencializar os saberes mais genuínos;
- não ser Mulher Maravilha permitiu exercitar o não;
- não ser princesa permitiu avançar com nossa luta por mais igualdade;
- não ser plebeia, usar o pouco de voz que tenho para ceder protagonismo a quem de direito;
- não deu tudo certo fez rever o que é dar certo;
- não chegar a tempo, flexibilizar o que for possível;
- não ser compreendida em tudo o que precisei me fez multiplicar ainda mais minhas referências e atenções para as outras pessoas.
Está tudo bem em meio ao caos.
Vem, 23!
Era uma vez uma rebelião em um povo chamado Cita, revoltado com a opressão. Matanças pra lá e pra cá, um belo dia, um conselheiro teve uma ideia gênia: e se em vez de matar nossa força de trabalho, porque na real estamos prejudicando a nós mesmos, irmos para cima com os chicotes que eles já estão acostumados a verem como instrumento de opressão? A alta liderança curtiu a ideia e… fim, a rebelião foi controlada e… voilá, o uso político e disciplinar do trabalho estava seguia seu curso.
Essa história é narrada por Heródoto e reproduzida pelo Vladmir Safatle no livro O Circuito dos Afetos.
Acontece que desde lááááááá de trás, mais precisamente com Hegel, que a gente vem desenvolvendo, revendo, avançando (…) em teorias e conceitos sobre o trabalho não ser só sobre geração de riqueza e valor, mas também meio de reconhecimento/consciência social.
É aí que entra a importância das lutas e diálogos sobre diversidade.
Não estou falando aqui da diversidade como trabalhada ainda muito superficialmente pelas companhias, mas daquela diversidade que dialoga diretamente com os conceitos de democracia, afinal, como considerar democrática uma sociedade estruturada em barreiras de exclusão e morte de mais da metade da sua população?
Parece difícil, e é!
Por isso venho insistindo tanto na transversalização de saberes, formações, desenvolvimentos e estratégias. Precisamos dar passos adiante e de forma mais estruturada e integrada.
Afinal, estamos falando de movimentar a sociedade, ou seja, de experiências reais de diversidade, e para isso vamos avançar por somente uma das inúmeras trilhas possíveis a partir da encruzilhada na qual chega esse texto.
Precisamos ser elo
Emicida já disse isso. A gente taí aprendendo a construir esses elos e a trilha pela qual enveredaremos para explorar a riqueza das encruzilhadas é a da comunicação e a sustentabilidade, meus focos de conhecimento para ser elo.
Enquanto cultuarmos a exaustão e o tratamento dos sintomas vai seguir sendo muito difícil não soltar a mão de ninguém. Seja nas nossas casas, nos nossos circuitos de afetos, ou trabalhos, é preciso mudar perspectivas e buscar novos paradigmas se a gente quiser transformar de fato.
A gente já sabe que é praticamente impossível chegar a resultados diferentes fazendo as mesmas coisas, certo?
Bem-estar como cultura pressupõe largar mão de uma vez de salário emocional, bermuda, mesa de pingue-pongue, videogame e pufes coloridos (bora doar tudo para instituições sociais?) e entender que as três letrinhas — ESG — que colocaram a sustentabilidade no hype da vez pressupõem equilíbrio entre as dimensões.
Ou seja: ou nós, pessoas, temos a mesma importância que as organizações dão aos seus números e ações ligadas diretamente ao meio ambiente (que são também ligadas às pessoas e vice-versa), ou vamos andar na corda bamba dos washings e/ou dos hushings.
Ao longo do ano, realizei muitas lives sobre Allboarding, como parte da minha produção como creator acelerada pelo LikedIn. Esse é um constructo (se é que já posso chamá-lo assim, perdoem-me colegas acadêmicos se estiver exagerado na dose) no qual venho trabalhando há quase um ano para dar conta de um tanto de proposições para novas perspectivas e paradigmas para trabalhar o relacionamento das organizações conosco, pessoas que trabalhamos, que bebe da comunicação e da sustentabilidade como indissociáveis para credibilidade e reputação.
Nesse processo, venho trabalhando ativamente para que as organizações compreendam os ganhos da comunicação pela reputação, e não pela projeção da imagem, somente.
Significa um novo paradigma e uma nova premissa para pensar estratégia, pois requer ceder espaço para o protagonismo dos públicos de relacionamento e implementar de uma vez o walk the walk, em vez de fazer comunicação, como substantivo, comunicar, verbo transitivo direto e indireto.
Comunicar o que se tem, e não projetar o que se deseja ter.
Ser e sentir — e mudar
Em outubro, tive a honra de participar ao lado das minhas amigas Dirlene Silva, Marcia Monteiro, Kely Pereira e Delaíse Pimentel, MsC. de um evento proposto e realizado pela rainha do networking por aqui, a Andréa Greco, com apoio do nosso amoreco Maycon Vitti e patrocínio da Adecco, chamado Ser e sentir: a diversidade mudando o futuro do trabalho.
Para falar sobre essa temática da minha lente de comunicação e sustentabilidade, peguei emprestado dois conceitos: sentipensar, de uma aldeia de pescadores afrodescendentes da Colômbia, e projeto de vida, dos Ishiro, um povo indígena vizinho nosso nessa América Latina de contrastes.
Sentipensar significa agir com o coração usando a cabeça. Já projeto de vida, diferentes visões e significados sobre o que é uma boa vida.
NOTA: Esses conceitos foram retirados de Pluriverso: um dicionário do pós-desenvolvimento.
Se tomarmos como base o fato de que nós, pessoas, somos responsáveis por pelo menos 50% do que conforma uma cultura organizacional, começamos a nos reaproximar do ponto de partida da nossa encruzilhada ali de cima, para compreender em que medida a diversidade é tão importante — olhaí que eu abro os hiperlinks, mas volto fechando!
E se, para avançarmos, tomarmos como proposição o deslocamento da comunicação para a ação de comunicar, e da projeção da imagem para a reputação, e do protagonismo institucional para o dos públicos de relacionamento, vamos cair no que deve ser o exercício da escuta e do diálogo, e de uma governança pensada e proposta realmente por e para pessoas, na autonomia real.
Por que autonomia real?
Vamos lá revisitar três conceitos:
- Ontonomia: normas tradicionais, que a gente incorpora e que vêm aí com tudo o que é estruturante da nossa sociedade.
- Heteronomia: regras impostas a nós, criadas pelos outros.
- Autonomia: regras criadas por grupos ou comunidades para serem seguidas pelos próprios.
Se quiserem ver como foi esse papo na íntegra, assistam aqui, não chega a 8 minutos.
Esperançar nesse novo ano
Esse é o meu desejo para todas, todes e todos nós.
Que possamos nos dar esperanças e entender que somos interdependentes.
Que possamos nos divertir.
Que possamos gargalhar.
Que possamos amar.
Que possamos!
Contem comigo. Daqui, conto com vocês. Feliz ano novo para nós!