Recentemente, falei sobre a primeira vez que a comunicação e a sustentabilidade se encontraram em mim.
Me lembro bem da sensação de incompletude que, de repente, me tomava quando olhava para os projetos que propúnhamos na agência em que atuava. Eram os mesmos projetos, a mesma qualidade, o mesmo empenho da equipe. O que, então, havia mudado?
A resposta é o contexto.
Externamente, observava o quanto éramos impotentes enquanto área técnica e de saber para resolvermos, de fato, as questões que se apresentavam pelos clientes. Era muito forte a cultura de que a comunicação é que resolvia crise, dentre outras máximas que, após muito me estressar e tirar o sono, me fizeram ampliar a atuação para a educação para contribuir para uma solução mais estrutural do que buscar dialogar com altos executivos e C-Levels viciados/acomodados em modelos de gestão ultrapassados.
Internamente, vivenciava essa ultrapassagem no próprio modelo de gestão da agência. Afinal, enquanto mercado, a comunicação ainda é bastante falha no walk the talk. Felizmente, tenho acompanhado algumas mudanças importantes, ainda pequenas se comparadas ao tamanho do mercado, mas relevantes da perspectiva de novos paradigmas para nossas relações profissionais.
Compartilhar e colaborar mais, competir menos se tornava mandatório.
Avançamos muito, mas seguimos com desafios estruturais
Ainda hoje sabemos o quanto é complexo transformar modelos forjados em hierarquias e processos de comando e controle.
Sabemos o quanto é mais “fácil” informar e “comunicar” e difícil criar ambientes reais de diálogo e relacionamento.
O quanto é mais “simples” “motivar” e “engajar” e complexo respeitar as diferenças, pluralidade e liberdade de de expressão (a real, não essa balela que motiva debates absurdos e sem fundamento que não o ódio que nos divide e enfraquece).
Por que trabalhar imagem e reputação é mais “eficiente” do que investir em mudanças estruturais em modelos de negócios.
E o que dizer dos greens e demais washings!
Avançamos bastante, é verdade, mas o tanto de impactos necessários de serem tratados requer posicionamentos e ações ainda mais contundentes.
Sustentabilidade precisa ser transversalizada em todas as formações
Ações contundentes requerem escala para gerar impactos positivos significativos para os desafios que temos pela frente.
Para isso, temos ciência, tecnologia e recursos diversos. Mas nada funciona sem as pessoas. Precisamos ser (ainda) mais conscientes dos nossos impactos, porque não somos estanques, e sim inter-relacionados em processos longos toda vida.
Nossas ações contam.
Então, chegamos a essa níus.
Ela nasce para eu dividir com vocês dez motivospara pararmos de uma vez por todas de separar comunicação de sustentabilidade.
Ainda, para convidar meus colegas de outras áreas e especialidades a montarem suas listas para administração, finanças, operações, RH… vamos lá?
1) Ninguém trabalha sozinho
Lembram que falei da sensação de incompletude que, de repente, me tomou quando olhava para os projetos que propúnhamos na agência em que atuava?
Fizemos um caminho de hiper-especialização nas profissões. Aprofundamos nossos conhecimentos sobre os campos e temos tanto a contribuir uns com os outros!
Na comunicação, pensar a estratégia associada aos pressupostos de sustentabilidade é potente.
Amplia o entendimento sobre gestão, relacionamento, diversidade, oportunidades de impacto positivo e consciência sobre o quanto podemos fazer mais em nossos projetos e ações.
2) É sobre pessoas
É sempre sobre pessoas, mesmo quando parece não ser.
Óbvio? Nem tanto… basta para 2 minutos para prestar atenção em como dados, números, índices, métricas e indicadores de performance, dentre outras “prioridades”, tomam a frente na hora de decidir investimentos.
O mesmo vale para nosso comportamento.
Parabenizar profissionais de altos cargos, ou que atuam em empresas tidas como interessantes como empregadoras é fácil, enquanto dar apoio àqueles que iniciaram um curso profissionalizante ou conseguiram cargos em níveis hierárquicos pouco atraentes para o modelo que consideramos “sucesso”…
Estamos de olho!
Aprofundando e integrando seus conhecimentos de comunicação à sustentabilidade você vai conseguir estruturar ações, seja quais forem — divulgações, campanhas, projetos de marca empregadora, engajamento, patrocínios, apoios, eventos diversos… — com um olhar muito mais atento às pessoas.
Desde maior envolvimento na concepção, até as possibilidades de impacto positivo que podem existir.
3) Seu trabalho pode se tornar prazeroso
O tanto de jovens profissionais da área que eu tenho mentorado com questões sobre seus trabalhos não agregarem nenhum valor para ninguém além dos acionistas demonstra o quanto precisamos pensar além.
Comunicação e sustentabilidade, juntas, são potentes nesse sentido. Se não nos ajudam a transformar muito do que fazemos, porque nem sempre é possível, nos ajudam a buscar alternativas e perceber para onde podemos caminhar profissionalmente para que nossos trabalhos não sejam fonte de adoecimento.
Nossa saúde mental está em frangalhos e é até tema de assunto em destaquepor aqui.
Sabemos que há healthwashing sobrando por aí e parte do que vai fazer com que não caiamos em ciladas é termos conhecimento para separar o joio do trigo.
4) Você vai fazer a diferença
Quando a gente aprende sobre sustentabilidade nosso estar no mundo nunca mais é o mesmo.
Não falo somente sobre mudanças de hábito que incorporamos ao nosso dia a dia, mas também sobre nosso comportamento e o quanto nos tornamos capazes de verdadeiramente enxergar as demais pessoas em suas individualidades.
As dimensões econômicas, sociais e ambientais sem ampliam e integram ao que somos.
Não dá para aprender sobre sustentabilidade e seguir reproduzindo preconceitos estruturais, o que significa dizer que você já vai fazer a diferença para muita gente e muita coisa.
E isso é tão potente!
5) Sua equipe vai crescer
Sim, gente, quando aprendemos que o que fazemos não começa e termina em nossas áreas e pode crescer muito se for efetivamente criado com esse nível de participação, ganhamos aliados.
Não estou dizendo que você vai contratar mais gente, mas sim que poderá contar com mais pessoas para fazer acontecer.
E vamos combinar que em um cenário como o que vivemos, qualquer ajuda conta, não?
6) Você vai melhorar suas habilidades estratégicas
Em um contexto em que já sabemos que há tendências de contratações pelo que você ainda vai aprender, cresce ainda mais a relevância das soft skills, ou as habilidades comportamentais, para o nosso posicionamento e jornada profissional.
Compreender sobre sustentabilidade e métricas ESG aumenta a maturidade e a relevância estratégica dos projetos de comunicação que podemos propor, pois os alinha diretamente às estratégias de negócios e ao que é entendido como core de resultados esperados.
Nunca mais será somente sobre marca, e sim sobre como ela impacta a vida das pessoas, e isto se aplica a qualquer área da comunicação.
7) Sabe a geração de valor? É sobre isso
Por que você trabalha (além de precisar pagar boletos)?
Zero problema em trabalhar somente para pagar boletos — e tem muita gente que sequer pode ter essa discussão porque sequer consegue ter segurança alimentar nesse país. Mas nós, aqui, cientes dos nossos privilégios, uns mais, outros menos, podemos.
Em um mundo desigual como o nosso, faz sentido?
8) Protagonismo, proposição e ação
Há tempos nossas carreiras estão sob nossas responsabilidades. A cada dia que passa, vemos direitos cerceados.
A comunicação é um mercado altamente afetado por todo esse contexto, mas pouco o discute.
Pois ampliar nosso conhecimento sobre o quanto estamos integrados nas diferentes cadeias de valor aumenta nossa chance de protagonismo, proposição de caminhos e, principalmente, ação, tanto aplicada aos cenários de trabalho, quando será possível fundamentar mais fortemente argumentos e propostas, quanto para nosso posicionamento perante a vida e o trabalho como parte dela.
9) Democracia
Expansão de direitos não é cerceamento dos direitos daqueles que já os têm.
Recentemente, vivenciamos situações paralisantes de violências contra pessoas negras, LGBTQIAP+, mulheres.
Vemos manifestações dentro de cada uma dessas bolhas e nossos aliados habituais. Mas cadê a sociedade? Pessoalmente, me choca bastante não ter visto um levante maciço dos homens em relação, por exemplo, ao estupro cometido a uma mulher enquanto paria.
Jamais poderemos dizer que vivemos em uma democracia enquanto tudo isso for visto como possível de acontecer. E não vou me estender para além daqui, pois como pessoa altamente sensível eu literalmente passo (muito) mal.
10) Tudo isso pode virar métrica
As métricas ESG nos permitem medir e criar interlocuções mais efetivas com outras áreas, como a financeira, a quem precisamos ou sim ou sim dizer amém dado que vivemos sob normas capitalistas.
Integrar comunicação e sustentabilidade é fortalecer as métricas ESG em todas as suas dimensões.
O que fazer se você chegou até aqui
Na dimensão profissional, avaliar se faz sentido para sua vida e, se sim, buscar conhecimento:
- Seguindo pessoas que compartilham o que sabem e contribuem para olhares diferentes dos seus.
- Buscando cursos gratuitos e investindo, se você tem condições (produzir conteúdo e conhecimento dá trabalho).
- Participando de eventos e acompanhando o noticiário sobre temas relacionados.
Na dimensão corporativa, considerar essa união de saberes como diferencial estratégico e transversalizá-la:
- Nos programas de T&D, para que ampliem as habilidades técnicas e comportamentais em todos os colaboradores e funcionários.
- No escopo de contratação de fornecedores para as áreas de comunicação (para que passem a conter habilidades de sustentabilidade) e sustentabilidade (para que contenham comunicação).
- Na dimensão estratégica de ambas as áreas para os objetivos de negócios.
São muitas outras possibilidades, que precisam sempre ser pensadas de acordo com cada realidade. Tou aqui disponível para conversar, só chamar!
Vamos?