Cecília Seabra

Comunicação e influência

16 de julho de 2024

O quanto estamos preparados para fazer parte da vida de outras pessoas? E como será que elas falam sobre nós?

Esse post é um convite para enxergarmos nossas carreiras de uma perspectiva humana. Ao fim, somos parte da vida de quem trabalha conosco. E vice-versa. Chegaremos em casa e contaremos histórias sobre o nosso dia para quem convive conosco, família, amigos… da mesma forma que as pessoas com as quais lidamos ao final de um dia de expediente farão.

Então, será que temos consciência e estamos preparados para fazer parte da vida de quem afetamos?

E como queremos que essas pessoas falem sobre nós?

E como nos sentimos ao saber que podem chegar mais ou menos estressadas, realizadas etc., em suas casas, a depender da nossa influência?

Por que isso importa

Quando duas pessoas se encontram e se permitem interagir, as duas saem modificadas. Vale para a vida, mas o foco aqui é as nossas relações de trabalho.

Ao fim, temos muitos desafios diários, e vários deles passam pela necessidade de convencer pessoas a fazerem algo.

Isso é desafiador, porque o que nos molda são experiências distintas sobre o que sabemos e não sabemos, somos bons e ruins em fazer. E elas vêm carregadas de referências que são tão únicas quanto a quantidade de pessoas que habitarem e derem vida a uma organização.

Vou propor um exercício e gostaria que você, que me lê, realmente fizesse antes de seguir correndo os olhos no texto.

  • Mergulhe por aí, dentro de si, e liste uma coisa profissional que você acha que faz muito bem e outra que não se considera uma boa pessoa para executar.
  • Em seguida, busque na memória em que momento da vida essas ideias se moldaram à sua personalidade.

Lembrou-se?

Vou compartilhar uma experiência minha: antes de iniciar a carreira em comunicação, eu fui bailarina. Quando ainda estava me profissionalizando, uma professora me chamou após a aula e disse: Cecília, você ama a dança, mas ela não gosta de você. Eu tinha entre 10 e 11 anos.

Dali para frente, eu sempre fui uma bailarina insegura. Nunca me joguei 1.000% como, hoje, sei que poderia ter feito. Não passava em muitos testes por pouquíssimo, porque faltava aquele plus que eu tenho certeza de que poderia entregar, mas lá no fundo estava a Cecizinha se lembrando de que a dança não gostava de mim e se contendo. Ficava fixada na perfeição técnica e não me permiti fazer o que tinha de melhor, que era o conjunto, a arte.

Agora, vou contar uma história que ouvi de uma pessoa já bem madura profissionalmente, que, um dia, me disse que participaria de uma atividade que requeria se apresentar e público, mas que talvez não conseguisse cumprir porque não era boa o suficiente.

Essa pessoa arrancou aplausos e gritos efusivos da plateia. Ao final, se emocionou e contou a conversa que havia tido comigo nos bastidores. E acrescentou o motivo: uma apresentação no ensino fundamental que arrancou chacota da professora e dos colegas. Aquela pessoa havia passado cerca de 40 anos achando que não sabia falar em público, quando, ao falar, entregou tudo.

Nós e nossas influências

Nossos parâmetros e entendimentos fazem parte de um conjunto de referências e experiências que é construídos ao longo da nossa própria vida e tudo o que vimos, vivemos e, principalmente sentimos.

Por isso, buscar reproduzir modelos e comportamentos esperados sem saber quem é você, o que realmente importa para você, como quer fazer parte da vida das pessoas e como quer que elas se refiram a você quando não estiver por perto é uma probabilidade muito grande de se frustrar e impedir que as pessoas ao seu redor se desenvolvam.

Gosto de abordar esse tema em três pilares:

  • Quem eu sou
  • Quem eu não consigo ser
  • Quem eu posso me tornar

Um exemplo: não nasci com paciência, o que significa que não consigo ser uma pessoa paciente com as demais. Mas pude me tornar organizada o suficiente para fazer com que outras pessoas consigam ter o tempo de que necessitam para fazer as coisas sem que eu pense que estão demorando demais e as cobre por uma performance que elas não são obrigadas a ter somente para atender à minha dificuldade absurda de lidar com diferentes percepções sobre a passagem do tempo — meu e das outras pessoas.

Quando me organizo, não é para parecer algo que não sou, mas para não impactar negativamente as pessoas com o que sou, impaciente, e o que não posso me tornar, paciente. Me tornando mais organizada, consigo criar um ambiente de segurança, propositivo, para quem está ao meu lado, que conseguirá atuar com melhores condições. Por outro lado, eu também consigo me sentir confortável.

É sobre como influencio as pessoas com meus comportamentos e como sou influenciada por elas.

Como faz?

Exercitar autoconhecimento pela autoavaliação é trabalhar no campo possível da autoconfiança, fundamental para desenvolvermos nossas habilidades de comunicação.

Elas são compostas por uma série de estímulos que damos às pessoas com quem interagimos, em todos os sentidos possíveis, e vamos fazê-los de forma consciente ou inconsciente.

Quando trouxe os exemplos de situações que ajudaram a construir ideias sobre o que somos bons ou não em fazer, o problema não foi necessariamente o que foi dito, mas como foi. Na imensa maioria das vezes o como é o ponto de maior ruído.

Se nossas ideias — ideias aqui num sentido bastante amplo — fazem de nós quem somos, e elas são um produto da vida única que cada um de nós teve, tem e terá, a forma como as transmitimos, ou seja, nossa capacidade de comunicação, fará com que sejamos percebidos pelas outras em linha ou não com quem somos.

É essa ideia que será o pilar principal do nosso posicionamento, que, por sua vez, irá dialogar com a cultura da empresa, para ser processada e comunicada via palavras, comportamentos e ações.

Por sua vez, cada pessoa, com sua visão que, igualmente, é única, vai processar essas experiências à sua maneira. Ou seja: para serem experiências positivas, temos que ter clareza sobre o que nos une.

E se importa para nós vivermos em ambientes com mais bem-estar, a pergunta é: como queremos impactar as pessoas ao nosso redor, e como desejamos que falem sobre nós?

A resposta vai partir de quem somos nós quando interagimos com elas.

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