Começando a semana que tem o Dia Internacional do Trabalho no meio para refletir sobre o quanto somos pessoas preparadas para o caos que é lidar com o nosso tempo — e estarmos preparadas para o que não temos ideia de que vai acontecer — a partir de algumas referências.
Isso importa porque…
… especialmente depois da pandemia, vimos o quanto estamos sujeitas a trancos dos quais fugimos em nossas preparações para lidar e gerir riscos.
Ficou bastante evidente que ainda temos, no geral, uma cultura corporativa muito focada em manuais e treinamentos de crises conhecidas e prováveis, mas que pouco investem para se preparar para cenários mais amplos e que consideram a gama de incertezas com as quais precisamos e precisaremos lidar.
A primeira referência é o macaco do caos da Netflix, ferramenta que testa o quanto o sistema está preparado para lidar com ataques para que suas pessoas, principalmente engenheiros de software, identifiquem e tratem rapidamente dos problemas.
O objetivo? Aumentar a resiliência do negócio.
E a desistência com isso?
Desistir é um ato de coragem, segundo Anne Duke.
E ela deve vir de forma estruturada, exaurindo os testes para gerar certeza e confiança de que o caminho está errado e deve ser repensado. Esse exercício virá do quanto testamos a resiliência dos modelos atuais — alguns deles já fadados ao fracasso, certo?
Começando a unir os pontos (porque é só o começo mesmo e cada pessoa que ler vai desenvolver essa conexão com suas referências e necessidades)
Para evoluirmos nos modelos de gestão — e aqui me refiro a todas as instâncias hierárquicas e funções — é preciso mudarmos a mentalidade sobre como trabalhamos.
Alguns aspectos relevantes:
- Incerteza, sua linda: nunca teremos todas as informações necessárias para tomar decisões. Então, a incerteza é par de trabalho e deve ser considerada.
- Força no processo: resultados são muito influenciados por fatores fora do nosso controle, o que torna cada vez mais relevante a qualidade do processo de tomada de decisão.
- Probabilidades: a gente não consegue prever o futuro, mas pode estimar a probabilidade de diferentes resultados para decisões mais informadas e racionais.
- O lugar dos erros: refletir sobre as decisões, identificar erros e mudar o processo de tomada de decisão a partir deles é fundamental.
- Vieses: excesso de confiança, viés de confirmação e viés de disponibilidade estão conosco do café da manhã à janta. Desconsiderá-los é aumentar a chance de erro, vamos combinar que sem necessidade, certo?
- Múltiplas perspectivas: somos sempre muito eficientes em buscar confirmação e ignorar o que as contradizem. Perspectivas diversas dão trabalho, mas ajudam a tomar decisões melhores.
Para ir mais longe
Se olhamos para o papel dos conselhos e da alta gestão, por onde circulo atualmente, estamos falando da urgência em rever o modelo de governança para transição de um olhar interno para outro que posicione a empresa como parte da sociedade.
Significa sermos capazes de enxergar o que está acontecendo e estruturar a governança de fora para dentro, integrando atividades e áreas para que a sustentabilidade e o ESG estejam, de fato, integrados à gestão, e não prioridade de uma área ou projeto.
São forças inegáveis para mudança de mentalidade, e não forçação de barra de quem atua na área e deseja ver cada vez mais empresas compreendendo seus papeis, compromissos e responsabilidades.
Esse movimento requer cada vez mais capacidade de arquitetura para capturar, tratar e comunicar uma quantidade enorme de informações e dados, o que coloca a tecnologia como um pilar fundamental para possibilitar a ação e resiliência ao negócio.
Independente de qual é a sua área de atuação, não é sobre necessariamente saber fazer, mas compreender as necessidades e saber geri-las como parte do repertório de recursos. Vale para cada uma de nós, profissionalmente, e para nortear agendas de desenvolvimento de pessoas.
É urgente atualizar as culturas organizacionais para que o entendimento de risco e tomada de decisão esteja presente de fato, e não siga sendo tratado de forma isolada, focando no que mais gostamos ou sabemos, em vez daquilo que é preciso.
Quer ir mais fundo?
Alguns links para ampliar a leitura, que são, também, referências para esse conteúdo.
- Especial sobre risco da McKinsey: https://www.mckinsey.com/featured-insights/mcKinsey-explainers/what-is-business-risk?cid=other-eml-onp-mip-mck&hlkid=a761cb0ff94a424499421f501854ee17&hctky=11517417&hdpid=d74efdb1-e75a-4c17-9ede-690ebb4c2046
- Chaos Monkey, da Netflix: https://netflix.github.io/chaosmonkey/
- Edição do The Shift, sobre desistência: https://mailchi.mp/theshift.info/desistir-parte-do-jogo?e=8a1a899e74
Boa semana!