Minha maior admiração em viver reside na relação com o Tempo. Da tatuagem com os versos de Caetano — Compositor de destinos | Tambor de todos os ritmos | Tempo, tempo, tempo, tempo | Entro num acordo contigo — à maturidade que se soma a cada ano que me deixa mais próxima da metade do ciclo nesse plano, a relação é de encontro é sempre focada nos encontros comigo mesma e com o que importa para o que entendo como uma boa vida.
Esse mesmo Tempo que me permitiu experimentar tantas versões de Cecília, me permitiu parir o primeiro livro autoral, no prelo para ser lançado ainda não sei quando pela Alta Books. E, oxalá, me permita viver muitas coisas dentro do mix de desejos que me move. Somos um compilado de experiências acumuladas ao longo Dele. E essa certamente se une a outras estruturantes de quem me torno.
Allboarding® nasce no virar de um ciclo que se inicia em turbulências profissionais e pessoais que, primeiro, me deixaram sem perspectiva. Hoje, se realocaram como determinantes para a forma como encontrei o lugar do trabalho como parte da vida, somada entre a calma e o equilíbrio necessários da Montanha e o “avesso do avesso do avesso do avesso” de São Paulo, cidade que sempre amei, a despeito das expectativas por ter sido forjada na beleza e no caos do Rio de Janeiro.
Para além do que virá nas páginas de Allboarding®, que ainda precisamos esperar para ler, esse post tem o objetivo de compartilhar alguns dos aprendizados que experimentei nesse processo, que tive a sorte de ter sido e-x-a-t-a-m-e-n-t-e como gostaria.
A potência da apropriação da nossa trajetória
Dentre as dez carreiras que conjugo atualmente, a de mentora de mulheres e pessoas LGBTQIAPN+, comunidade na qual me incluo, me coloca constantemente frente a frente com muitas pessoas que, assim como eu, relutam em compreender o poder de nos apropriamos da nossa trajetória e olharmos para ela como uma força e um diferencial.
No processo de escrita e de obrigatoriamente precisar revisitar os últimos sete anos de vida, pude me enxergar de uma forma que reluto bastante, já que, como mulher que sou, fui forçada a me apequenar nos espaços pelos quais passei, para que o protagonismo pudesse se manter onde sempre esteve. Assim que:
Olhe para o caminho que te trouxe até aqui com carinho, aproveitando suas experiências como potências que fazem de você quem é.
O diferencial sempre estará nas pessoas
Outra coisa que o Tempo tem me ensinado bastante é escolher quais as boas companhias para cada passeio.
Estar ao lado de quem me descobriu pesquisadora nesse processo foi importante para validar minhas escolhas ao longo da escrita, discutir a validade delas, testar argumentações, refletir sobre caminhos possíveis e, principalmente, ser lembrada de quem eu sou e do que sou capaz a cada momento em que a ansiedade subia para o nível do atrapalhamento, então:
Veja quem são as pessoas que verdadeiramente vibram por você e com você. Em muitos momentos elas serão determinantes.
E ainda que não estejam ali, ao alcance de um abraço, elas se farão presentes.
Coragem e confiança precisam de prática
Muitas vezes, é mais fácil confiar nos outros do que em nós mesmas. Aí vem a importância da trajetória, do olhar carinhoso para o que nos trouxe até aqui como forma de reconhecimento pelo que somos capazes. E das pessoas que nos ajudarão, na alteridade, a reconhecer quem somos e quais os nossos diferenciais.
O tempo todo eu revivi cenas de reuniões, trabalhos, pseudo parcerias, revivi reações e ações minhas, erros e acertos, boas e más decisões.
Ter a certeza de que fizemos o melhor que pudemos com os recursos que tínhamos à época dá coragem de seguir adiante e confiança de que somos capazes de continuar na direção que escolhemos — às vezes dentre muito poucas opções que temos.
Bússola calibrada ajuda na viagem
Esse livro só nasceu porque eu tenho clareza do que me move, o que não significa que não possa mudar de ideia a cada vez que encontrar outras melhores do que as que tenho agora.
Sabe aquela história de que não precisamos repetir o passado?
Para mim, tem uma força enorme e funciona como contraponto, seja para saber de onde venho e quais os riscos que me acompanham, ou para fortalecer as escolhas sobre o que quero e o que não quero que faça mais parte da minha vida.
Valorizar a trajetória e do que somos feitos ajuda a saber que ainda que não tenha sido necessário viver tantas coisas da forma como aconteceram, a realidade é o que é e, dentro do espaço apertado que temos para exercer nossa autonomia, muitas escolhas competem somente a nós, mesmo.
Foco no processo: o seu
Cada pessoa funciona de um jeito e foi fundamental respeitar o meu jeito de trabalhar para eu conseguir fazer o download de tudo que estava na cabeça, para costurar o que foi produzido ao longo de sete anos de trabalho e que resultou no livro.
Transformar ideias em escrita, gravação, rabisco, nota… Deixá-las bem guardadas e não achar que são besteira é importante para aprender e desenvolver o raciocínio.
Novamente ele, o Tempo, age e nos permite evoluir a visão sobre as coisas e a forma como se comportam, num processo que fortalece a confiança no que fazemos e como fazemos.
O afeto sempre será revolucionário
“Amar e mudar as coisas” tem muitas formas de prática.
A primeira relação que precisa ser humanizada é aquela que temos conosco. Algumas pessoas — umas mais, outras menos — têm mais facilidade de praticar a empatia com os outros do que consigo mesmas.
Então, ainda que esse post seja sobre o meu aprendizado, espero que ela ajude você a olhar com mais carinho para a sua trajetória e para a sua potência, como forma de resistência a todo o contexto que nos oprime e comprime para que caibamos em caixas que nunca foram pensadas para pessoas — até porque gente não foi feita para ficar trancada em lugar ou papel nenhum.
Não posso terminar sem agradecer a três mulheres incríveis, que admiro de monte e estarão comigo nos textos de Allboarding®: Caterine Fagundes Carolina Terra Karina Rehavia na falta de palavra no dicionário para expressar o que é a gratidão, obrigada!
PS – a foto é do meu último dia de escrita, quando pedi inspiração à sereia de Sitges, na Catalunha, cidade que fiz de base para a escrita.